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Uma das mudanças mais chocantes do Windows 8 é a supressão do botão Iniciar, o ponto de partida de todo usuário Windows há quase 20 anos. Para colocar esse tempo em perspectiva, trata-se de um hábito mais velho do que muito leitor deste Gemind.
Essa e outras mudanças em um produto tão usado como o Windows vão causar indisposições, reclamações, chororô geral. É algo que experimentamos alguns anos atrás, quando o Office 2007 trouxe a Ribbon, ou “Faixa de opções”. Muitos ficaram no Office 2003 o quanto puderam, outros apelaram para add-ons que trazem os menus antigos de volta, mas no fim a maioria se adaptou e boa. O mesmo pode acontecer com o Windows 8, mas não há garantia alguma. E as mudanças, aqui, são bem maiores.
O posicionamento da Microsoft é rígido. A empresa se mostra bastante aberta ao feedback da comunidade e Sinofsky mostra, mais uma vez, que sabe ouvir e aparar arestas. Mas quando a crítica recai sobre pontos fundamentais do sistema, a postura muda. Foi assim com o UAC no Windows 7, parece ser o caso com a interface Metro e outras tantas críticas duras a elementos centrais da experiência do Windows 8.
Geralmente concordo e gosto muito das opiniões de Paul Thurrott, mas neste texto cabe uma exceção. Ele crítica duramente o estranhamento e os comentários negativos dos usuários do Windows 8 Consumer Preview a problemas de usabilidade do Windows 8. O ato de desligar o sistema, objeto de dois tutoriais (!) em grandes portais, por exemplo:
“Desligar o Windows 8 é fácil e isso permanece verdade não importa qual método você use:
Teclado. Winkey + I, seta para cima, Enter, U.
Mouse. Charms, Settings, Power, Shutdown.
Toque. Charms, Settings, Power, Shutdown.”
No Windows 7 eu só preciso ir em “Iniciar”, depois “Desligar” (um contrassenso, mas de qualquer maneira algo simples). No Windows 8 não é fácil, nem intuitivo — nesse caso, nem mesmo com uma tela sensível a toques. As pessoas deveriam simplesmente apertar o botão do gabinete? Sim, placas-mãe ATX estão aí há mais de uma década e permitem essa ação. Mas elas não fazem isso e, deste ponto em diante, entramos naquela sempre complexa questão do “certo” vs. pragmático.
A Microsoft, em post recente no blog do Windows, também tenta amenizar a questão:
“Aonde foi o botão Iniciar?
O botão Iniciar tem sido uma das imagens mais conhecidas do Windows por mais de 16 anos. Eu admito que, quando olho para o canto da minha tela e só vejo o ícone do Outlook, ainda fico um pouco surpreso. E já faz meses que estou usando o Windows 8. Então, aonde foi parar o botão Iniciar? Resposta curta: ele ainda está lá, só foi para a direita e está um pouco diferente agora. Além disso, você ainda pode usar a [tecla de atalho] Winkey se estiver com um teclado.”
Para o buraco deixado pelo menu Iniciar estão surgindo workarounds e aplicativos para trazê-lo de volta, como o interessante Start8, da Stardock. Ele vai contra as mudanças impostas pela Microsoft e, justamente por isso, atende a um público insatisfeito com esse novo padrão que, por sua vez, é uma ruptura violenta com o que as pessoas estão acostumadas. Mudar é bom, mas hey, calma, cara…
No Gemcast da semana passada falamos muito sobre o Windows 8 em desktops e notebooks. Morimoto teceu comentários pertinentes sobre o que move a interface Metro no Windows — basicamente, tablets e o sucesso avassalador do iPad. Em computadores tradicionais, com mouse/trackpad e teclado, tudo parece… estranho. Desengonçado. A metáfora WIMP pode não ser perfeita e a evolução, o único caminho, mas ela deve ser pensada de modo a manter a coerência com os métodos de inserção de dados atuais. Ainda mais quando não há substituto, caso do teclado. Imagine uma interface Metro em computadores corporativos. Consegue? Nem eu.
O Windows 8 é uma aposta fenomenal em tablets, onde o “desligar” a partir do software realmente não faz falta e a interface Metro pode ser usada da forma como foi concebida, com os dedos. Nos desktops? Puxando outra fala do nosso podcast, o Windows 7 corre um grande risco de se tornar o novo XP.